Autor: Danilo Sili Borges

 Sempre nos queixamos que nossas instituições não guardam suas memórias. E é verdade. Talvez isso se deva à pressa que temos em construir um país ainda tão carente de tantas coisas fundamentais.

 Tempos que parecem longos, na escala humana, são quase nada quando vistos na vida de uma instituição e, ainda assim, fatos e pessoas que lhe foram relevantes ficam para sempre como registros em arquivos, agora digitais. Refiro aos empoeirados, de cor indefinida, ou transformados em caixas minúsculas de microfilmes que nunca mais ativarão uma retina.

 No dia 1º de setembro, perdeu a vida para a covid-19 o professor Sérgio Pimentel Albino, aposentado do Departamento de Engenharia Civil. Seus dados funcionais irão para arquivo de ainda mais difícil acesso. Isso ocorrerá com cada um de nós. Inevitavelmente, mas, no caso, trata-se de um pioneiro do ENC.

 Fui seu colega no departamento e tivemos relação de amizade que extrapolou os limites laborais. Resolvi prestar este depoimento sobre sua memória incentivado pelos professores Claudia Gurjão e Márcio Muniz, jovens ainda, mas com sensibilidade de que a memória das instituições é a sua alma.

 Como chefe de Departamento, recebi Sérgio em 1968, jovem engenheiro formado na Escola Nacional de Engenharia da UFRJ, trazido pelas mesmas mãos que um dia me convenceram a vir para Brasília, as do professor Aderson Moreira da Rocha, então o mais renomado engenheiro estrutural do país, autor dos mais lidos livros em português e espanhol na sua especialidade, catedrático na Escola Nacional de Engenharia e na Faculdade de Arquitetura da mesma Federal do Rio de Janeiro. A tarefa de Aderson era estruturar uma escola de engenharia moderna, dentro dos padrões da nova universidade.

 Naquela época, para engenheiros, não havia cursos de mestrado ou doutorado, as universidades não efetuavam concursos para o ingresso na docência. A Coppe iniciava suas atividades. Os pretendentes à vida acadêmica recebiam convite dos seus professores, quase sempre renomados catedráticos, que observam os talentos em suas aulas. Sérgio veio por essa via, como todos nós, os que começamos a FT nos seus três primeiros cursos.

 O novo contratado era ativo, comunicativo e imediatamente se impôs pelo conhecimento técnico. Até hoje, nós, seus colegas e ex-alunos, lembramos sua pessoa em imaculado guarda-pó branco, circulando pelos corredores do ICC, primeiro endereço da FT.

 De sua vivência anterior à UnB, sei que foi atleta de esportes aquáticos, laureado, se minha cansada cabeça não falha em detalhes, como campeão sul americano de Water Polo (hoje Polo Aquático), tendo deixado a prática desse esporte ao sofrer acidente que lhe provocou deslocamento da retina em um dos olhos.

 Sempre participante das atividades do departamento, foi seu chefe em 1973, num período difícil e cheio de incertezas na Universidade, mas que ele soube conduzir com sabedoria e bom senso.

 Ao passar para o regime de Tempo Parcial, já na maturidade, teve grande êxito como projetista estrutural, construtor e especialista em recuperação de estruturas.

 Fica este texto para lembrar que Sérgio Pimentel Albino não é apenas um registro de arquivo. Ele está na memória de seus familiares, dos seus colegas da UnB, dos seus alunos e da engenharia do DF.

 
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